sábado, 18 de abril de 2015

E-BOOKS - A ÚLTIMA CHANCE - Diana Palmer (The Texas Ranger ― 2001)

  • "Um assassinato, um caso de amor e o passado á espreita: qual será o desfecho?”. Para Marc Brannon, promover a honra e a justiça é tão natural quanto respirar. Convocado ao cenário de um homicídio de grande repercussão, Brannon reencontra uma jovem e impetuosa investigadora que fizera parte de seu passado. Dois anos antes, seus sentimentos se entrelaçaram com os de Josette Langley... Até que ela fez uma acusação que abalou os círculos políticos... E destruiu a confiança que Brannon depositava nela. Agora eles estão juntos novamente...E há muito mais em jogo do que o orgulho de ambos. A investigação está se tornando cada vez mais complexa e perigosa, será que eles, desiludidos e vulneráveis, divididos entre a paixão e a suspeita, conseguirão descobrir a verdade antes que o assassino faça mais uma vítima? Ou serão ambos surpreendidos no fogo cruzado?...
  • CAPÍTULO I
As paredes da sede dos Texas Rangers em San Antonio cobriam-se de fotografias em preto-e-branco emolduradas de muitos dos que já haviam feito parte de seu quadro. Como fantasmas cor de sépia de tempos passados, zelavam pelo moderno complexo equipado com telefones, aparelhos de fax e computadores. Funcionários entrevistavam pessoas às escrivaninhas. O zumbido das máquinas em operação dominavam o escritório, estranhamente confortador, como uma canção de ninar elétrica. Recostado na cadeira giratória, os cabelos castanho-aloirados em ondas reluzentes sob as luzes do teto, o sargento Marc Brannon trabalhava em uma pilha de pastas de arquivo sobre a mesa atravancada. Com os olhos cinza-claros estreitos quase fechados, pensava em um infortúnio recente dos mais perturbadores. Um colega Texas Ranger e amigo íntimo, Judd Dunn, quase fora atropelado por um automóvel em alta velocidade, semanas antes, quando exercia trabalho temporário em San Antonio. Podia ter algo a ver com a investigação que o FBI conduzia acerca do chefão do jogo ilegal na cidade, Jake Marsh. Dunn colaborara com os federais nesse caso, mas logo depois se transferira novamente para o escritório dos Rangers em Victória, alegando problemas pessoais. Brannon herdara a investigação sobre Marsh.  O FBI continuava envolvido... Ou melhor, um agente conhecido de Brannon estava envolvido, um chato natural da Georgia chamado Curtis Russel. Era curioso o envolvimento de Russel em um caso do FBI. Ele já trabalhara para o Serviço Secreto. Naturalmente, todos eram livres para mudar de emprego, lembrou-se Marc. Com certeza, Russel, mudara.
Aparentemente, Russel estava até os joelhos naquela investigação sobre Marsh. Havia menos de dois dias, o procurador-geral Simon Hart resmungara com Brannon ao telefone acerca da tenacidade de Russel.  O ex-agente do Serviço Secreto encontrava-se em Austin no momento, ameaçando enlouquecer o pessoal local enquanto vasculhava os arquivos da perícia atrás de informações sobre dois assassinatos que achava estarem relacionados a Marsh. E, quem sabia, ele podia estar certo. Já para acusar o chefão do jogo ilegal de alguma coisa, seria preciso um milagre. Marsh tinha o dedo em todo tipo de ilegalidade, incluindo chantagem, prostituição e jogo clandestino, principalmente em San Antonio, onde morava. Se encontrassem alguma evidência contra ele, poderiam se valer do estatuto estadual de repressão a contravenções, que permitia o fechamento de toda e qualquer propriedade usada como base de operações criminais. Sabendo-se que Marsh promovia a prostituição e apostas ilegais em seu clube noturno, bastaria provarem para desalojálo.  Na verdade, ele seria despejado da própria casa, propriedade valiosa no centro da cidade. Mas saber que o homem tinha negócios ilegais e provar isso eram coisas totalmente diferentes. Marsh especializara-se em driblar investigações e buscas. A observação estrita da lei com certeza dava vantagem aos criminosos de carreira. Era uma pena não poderem mais simplesmente eliminar pos maus elementos, ponderou Brannon, caprichoso, contemplando a fotografia de um Texas Ranger tirada cem anos antes, no lombo de um cavalo, com um laço bem apertado em torno de um bandido ferido e todo empoeirado. Levou a mão esguia à coronha de madeira escura do Colt calibre 45 que portava no coldre ao quadril. Como não tinham uniforme, os Rangers podiam usar as roupas e armas de sua preferência. A maioria do pessoal vestia camisa branca, os homens com gravata, sobre a qual prendiam o distintivo de estrela dentro de um círculo.  Também a maioria completava o traje com chapéu Stetson branco e botas. Os Rangers consideravam tal apresentação conservadora, formal e adequada ao trabalho. Brannon esforçava-se para se encaixar no padrão. Bem, vivia tentando. Atualmente, exercia sua função com mais cautela que nunca. Cometera o maior erro de sua existência havia dois anos, ao julgar mal uma mulher por quem se... Afeiçoara, muito. Sua irmã afirmava que a tal mulher não o culpava pelo inferno em que se transformara a vida dela.    Mas ele se culpava, tanto que se demitira dos Rangers e deixara o Texas para trabalhar com o FBI durante dois anos. Aprendera, então, que fugir dos problemas não os resolvia. Eram portáteis. Como dor de cabeça. Ainda podia vê-la mentalmente, loira, insolente e de uma perspicácia seca. A despeito das misérias sofridas, revelara-se uma pessoa mais vivaz e agradável que ele já conhecera. Sentia falta dela. Ela não sentia falta dele, claro. Por que sentiria? Ele a prejudicara enormemente. Arruinara sua vida. ― Sem nada para fazer, Brannon? ― alfinetou uma colega.  Todas as mulheres o achavam um gato, esbelto, de quadris estreitos, peito largo e aquele rosto de tipo quadrado que outrora ilustrara cartazes de filmes de cowboy. A boca sensual destacava-se sob o nariz quebrado pelo menos uma vez, e o porte arrogante mais excitava do que intimidava. Mas não era namorador, pelo que sabia. Na verdade, se saía com alguém, era tão discreto que nem as fofoqueiras de plantão conseguiam flagrar. ― Estou trabalhando ― replicou, com um brilho maroto nos olhos. ― Estabeleço contato telepático com criminosos fugitivos. Se der certo, todos vão se apresentar em delegacias de todo país, para se entregarem.
― Conte outra ― desdenhou a moça. Marc suspirou e sorriu. ― Acabo de testemunhar no tribunal. Agora, tenho seis casos na mão e preciso decidir qual é a prioridade. ― Pôs a mão na pilha de pastas. ― Talvez deva tirar cara ou coroa... ― Não precisa. O capitão quer falar com você. ― Salvo por novas ordens! ― Brannon saltou para a frente e suas botas se chocaram contra o chão. De pé, espreguiçou-se bem, esticando sobre o peito musculoso e peludo a camisa branca com o distintivo de Ranger no bolso. ― Qual é a missão? A colega lançou uma folha de papel sobre a mesa. ― Homicídio num beco perto do bulevar Castillo. Homem branco, entre vinte e cinco e trinta anos. Dois investigadores do Departamento de Investigações Criminais e uma perita médica já estão no local, mais dois técnicos de emergências médicas e dois patrulheiros. O capitão mandou você ir para lá já, antes que removam o cadáver. Marc correu os olhos pelo texto da ordem de serviço. ― Mas é no limite da cidade. O distrito policial de San Antonio tem jurisdição... ― Eu sei. Mas esse é um caso especial. O corpo apresenta apenas um ferimento à bala na parte posterior da cabeça, típico de execução sumária. Lembra-se do que há no bulevar Castillo? ― Não. A moça desdenhou. ― O clube noturno de Jake Marsh. O beco onde foi encontrado o cadáver fica a duas portas dele. Marc sorriu. ― Ora, que presente caiu no meu colo, e bem quando eu começava a sentir pena de mim mesmo. ― Hesitou. ― Um minuto. Por que o capitão está passando esse caso para mim? ― desconfiado, olhou feroz para a porta fechada da sala do comandante dos Rangers. ― A última missão que ele me passou foi a morte misteriosa de uma vaca mutilada. ― Inclinou-se para frente, porque a colega era uma cabeça mais baixa. ― Acham que foi alienígenas ― sussurrou, cauteloso. A moça reagiu séria. ― Nunca se sabe. Podem ter sido. Marc olhou-a bravo. Ela sorriu.
― Ele só ficou tiririca porque você trabalhou com o FBI por dois anos, enquanto ele foi recusado duas vezes. Disse que lhe passaria esse caso de assassinato porque você não o fez passar vergonha este mês. Ainda. ― Nada demais. Aposto uma semana de salário como o caso vai estar em todos os noticiários à noite. ― Pois eu não apostaria. Aliás, ele disse para você não abastecer mais o carro naquele posto do centro em que só há frentistas mulheres, porque o departamento está ficando com má fama. Brannon ergueu as sobrancelhas. ― Mas o que é que ele tem contra frentistas mulheres? ― indagou, inocente. ― Não é só gasolina que elas vendem... ― Ela enrubesceu ao perceber o que dissera, fez um gesto impotente para a ordem de serviço sobre a mesa e se retirou apressada. Brannon sorriu maroto. Pegou a folha de papel, o chapéu branco e deixou o escritório.    Em Austin, uma mulher esbelta de longos cabelos loiros presos num coque e grandes óculos de aro dourado à frente dos cintilantes olhos castanhos-escuros tentava consolar um dos analistas de sistema da procuradoria-geral do Estado: ― Ele gosta de você, Phil ― afirmou Josette Langley ao rapaz que completava o primeiro mês de trabalho no primeiro emprego que arranjara ao sair da faculdade. Ele estava arrasado. ― Gosta, sim. O ruivo de olhos azuis olhou para a porta da sala de Simon Hart, o procuradorgeral do Texas, e ficou ainda mais vermelho. ― Ele disse que foi por minha culpa que o e-mail dele caiu enquanto ele conversava com o vice-presidente on-line sobre uma conferência de governadores que vai acontecer. Desconectou-se da rede e não conseguiu mais voltar. Ele atirou o mouse em mim! ― Sorte sua que ele não estava plugado na CPU na hora ― retrucou Josette com um sorriso. ― De qualquer forma, ele só atira objetos quando Tira está brava com ele. Não dura muito tempo. Além disso, o vice-presidente é primo dele em terceiro grau ― revelou. ― Aliás é meu primo também ― acrescentou, pensativa. ― Não ligue, Phil, você tem de aprender a ignorar, como... Água nas costas de um pato. Simon é genioso, mas se esquece de tudo com a mesma facilidade. O rapaz olhou-a maligno.
― Ele nunca grita com você. ― Por que sou mulher ― observou Josette. ― Ele é muito antiquado e não grita com mulheres. Tiveram uma criação rígida, ele e os irmãos, e não avançam no tempo. ― Quer dizer que os quatro irmãos são iguaizinhos a ele? Deus me livre... Josette recordou que Phil era filho único, como ela. ― Não, não são iguaizinhos a ele. Para começar, moram em Jacobsville, aqui no Texas, e os casados parecem bem mais calmos agora. ― Preferia não pensar nos dois Hart solteiros remanescentes, Leo e Rey. Comentava-se que eram loucos por biscoitos caseiros e não mediam esforços para satisfazer o desejo.    ― Os solteiros não são nada calmos ― replicou Phil. ― Na semana passada, um deles arrancou arrastada a cozinheira de um restaurante de Victória, e mandaram os Texas Rangers atrás dele! ― Judd Dunn. ― Josette estava a par. ― É nosso primo também. Mas foi uma espécie de brincadeira. A mulher não fez tanto escândalo... Bom, deixa para lá. Não tem a menor importância. ― falava rápido demais. Sentia o rosto afogueado sempre que se comentava algo sobre os Texas Rangers. Guardava lembranças dolorosas de um Texas Ranger em particular, a quem amara desesperadamente. Gretchen, a irmã de Marc Brannon, contara-lhe que ele se envolvera em uma briga de bar dois anos antes, logo depois que romperam e se viram em lados opostos no julgamento de um rumoroso caso de assassinato. Marc demitirase dos Rangers pouco depois e entrara para o FBI.  Estava de volta a San Antonio agora, com os Rangers outra vez. Gretchen lhe contara também que Marc quase enlouquecera de culpa por conta de um incidente ainda mais antigo, ocorrido quando Josette contava com quinze anos e ele era policial em Jacobsville. Ela estranhava o fato, considerando as coisas horríveis que ele lhe dissera quando desmancharam tudo. Josette afirmara a Gretchen que não culpava Marc por não ter acreditado em sua inocência. Uma parte sua não culpava, de fato. Já outra, mais obscura, adoraria pendurá-lo em um carvalho pelas esporas por conta da miséria em que a fizera viver nos últimos dois anos. Ele nunca acreditara realmente em sua história, até o último encontro desastroso, e a abandonara sem dizer palavra, como se ela fosse uma prostituta. Amara-o. Mas ele não podia tê-la amado. Caso contrário, jamais teria deixado o Texas, nem que o julgamento do assassinato os tivesse colocado um contra o outro. Josette dispersou as imagens eróticas de seu último encontro com Marc e atentou ao pobre Phil Douglas. ― Vou ajeitar as coisas com Simon para você ― prometeu.   
― Eu gosto de trabalhar aqui ― afirmou o rapaz, ansioso. ― Mencione isso. E vou arrumar o e-mail dele, para que o problema nunca mais se repita. ― Eu digo a ele, Phil. Aliás, vai ser já. Preciso falar com ele sobre um fax que um dos promotores enviou hoje cedo. Quanto a você, levante a cabeça. Não é fim do mundo. Tudo passa com o tempo... Até as coisas que a gente pensa que vão nos matar. Ela sabia disso melhor do que ninguém, mas não o disse em voz alta. Josette encontrou o procurador-geral do Texas de cara feia ao telefone, como se tivesse provado comida estragada. ― Algum problema? ― indagou diante da escrivaninha. Ele moveu sobre o tampo a mão artificial, tão perfeita que às vezes era difícil recordar que ele tivera o membro amputado. Grandalhão de cabelos castanho-escuros e olhos claros, Simon era casado com a bela ruiva Tira e tinha dois filhos morenos, todos devidamente retratados na moldura sobre o aparador a suas costas. Havia também a foto dele com os quatro irmãos tirada logo depois que se elegera procurador-geral. Os irmãos pareciam apreensivos. Josette sorriu. Deficiente físico ou não, Simon era uma força considerável quando perdia a cabeça. ― Era o promotor-assistente de San Antonio ― indagou ele, ao desligar o telefone. ― Encontraram o cadáver de um tipo ligado ao crime num beco a poucos metros do clube noturno de Jake Marsh. ― Encarou-a. ― Trata-se do chefão do jogo clandestino na área. Nunca ouviu falar dele? ― Parece que já ouvi esse nome... Mas esse caso não nos diz respeito, diz? Simon traçava um padrão na mesa. ― Talvez diga. Depende de conseguirmos ligar Marsh ao assassinato. Sabe o esforço que a promotoria de San Antonio tem feito para encurralá-lo. O promotor até pediu ao chefe da polícia que colocasse os Texas Rangers na investigação. Se conseguirmos pegar Marsh, será um caso de múltiplas jurisdições, que acabará tendo muita repercussão. Sendo este um ano eleitoral para renovação do Senado, é óbvio que vão levantar a bandeira do combate ao crime. Acontece que não quero o Texas sob os holofotes outra vez. Nem a promotora do condado Bexar, que está assegurando a boa documentação e arquivamento de cada etapa do processo. O procurador-geral estava escondendo alguma coisa. Josette adivinhava pelo modo como ele a olhava. ― Sabe que não consegue esconder nada de mim ― ralhou ela. ― O que é que quer me contar? Ele meneou a cabeça e riu.
― Eu me esqueço dessa sua capacidade de adivinhar o que as pessoas estão sentindo. Está bem. Marc Brannon é o Ranger destacado para o caso. ― Ergueu a mão antes que ela falasse. ― Sei que há uma rixa entre vocês, mas temos de pegar Marsh. Eu o quero tanto quanto a promotoria, por isso vou mandar você para acompanhar os trabalhos e me manter informado. Estou com mau pressentimento... Josette também estava com mau pressentimento. Tinha o coração acelerado. Dois anos. Dois anos. ― Pois terá um pressentimento ainda pior se me mandar lá. Consegue imaginar Brannon e eu trabalhando juntos? Isso só será possível se confiscarem todas as balas dele e me obrigarem a deixar minha arma aqui em Austin. Simon riu. A despeito da vida trágica, Josette era forte, independente e de bom humor seco. Contratara-a dois anos antes, quando ela não conseguia emprego, graças principalmente a Brannon, e não se arrependia.  Formada em justiça criminal, Josette optara por atuar como investigadora no escritório da promotoria. O destino a colocara ali, trabalhando para ele na Unidade de Assistência à Promotoria e Investigações Especiais. Mas podia ser emprestada às promotorias que requeressem, junto com outros investigadores e mesmo promotores, provendo recursos às investigações criminais. O trabalho era angustiante, às vezes, mas ela o adorava. Tinha acesso ao respeitado Centro de Informações Criminais do Texas, um banco de dados estadual de elementos procurados pela polícia conectado em tempo real com departamentos de segurança. Josette recorria muito ao cadastro eletrônico, principalmente quando investigava crimes cibernéticos.    ― Ainda não tem nada decidido ― tranqüilizou Simon. ― O pessoal permanece no local. O crime pode nem estar relacionado a Marsh, embora eu reze para que sim. Só quis preparar você, caso tenha que ir lá. ― Está bem. Obrigada, Simon. ― Somos parentes. Mais ou menos. ― Ele franziu o cenho. ― Seu primo em terceiro grau é que era parente da segunda mulher do meu avô? ― Só analisando a árvore genealógica ― replicou Josette. ― Bom, não podem me acusar de nepotismo por contratar você, mas o fato é que somos primos distantes. ― Sorriu afetuoso. ― Meio parentes. Assim como o resto do pessoal aqui... ― Fico contente que pense assim, porque o "primo" Phil me pediu para lhe dizer que ele gosta desse emprego e lamenta ter detonado seu e-mail ― disparou Josette aproveitando a deixa. ― Espera não ser demitido. Os olhos dele faiscaram.
― Pois diga ao primo Phil... ― Não complete, ou conto a Tira! Simon cerrou os dentes. ― Oh, está bem. ― Franziu o cenho. ― Aliás, o que veio fazer aqui? Ela começou a enumerar: ― Primeiro, pedir aumento. Segundo, um computador que não pife toda vez que carrego um programa. Terceiro, um scanner novo, porque o meu não funciona. Quarto, mais um armário-arquivo, porque o meu já está lotado. E que tal um cão robô? Eu poderia ensiná-lo a ir buscar pastas... ― Sente-se! Josette obedeceu, ainda sorridente. Cruzou as pernas diante da escrivaninha e falou do fax do promotor da zona rural pedindo um parecer legal. Para alívio de Simon, parecia despreocupada quanto à possibilidade de o destino a lançar no caminho de Marc Brannon pela terceira vez.    Ao deixar a sala de Simon, porém, Josette tremia. Tinha de ser um caso de assassinato de fácil solução. Não queria rever Brannon, não agora que começava a esquecê-lo. Trabalhou o resto do dia meio aérea. Estava apreensiva, como se pressentisse que o homicídio em San Antonio afetaria sua vida. Sua avó, a irlandesa Erin O'Brien, fora uma mulher especial, capaz de vislumbrar acontecimentos com antecedência. Sempre tinha comida extra pronta e quarto de hóspedes arrumados quando a família Langley chegava em visita "de surpresa".  Visualizou também tragédias, como a morte de um irmão. Quando o pai de Josette passou na casa dela para dar a má notícia, encontrou-a já de preto e chapéu de domingo, pronta para ir ao funeral. Ninguém assistia a filmes de suspense na companhia de Erin, porque ela sempre revelava quem era o culpado ao final da primeira cena.  A avó fora a pessoa mais querida de Josette na infância. Partilhavam todo tipo de segredos. Fora Erin quem a prevenira de que conheceria um homem alto de distintivo policial e suas vidas se entrelaçariam para sempre. Aos quinze anos fora salva por Marc Brannon de um quase estupro numa festa de arromba, e encontrou a avó já a esperando de braços abertos ao chegar na viatura da polícia de Jacobsville. Marc ficou muito impressionado com a anciã irlandesa. A morte de Erin, pouco antes de a família se mudar para San Antonio deixara Josette arrasada. Também fora devastador perder Marc, dois anos antes. Sua vida parecia uma prova de resistência. 
Naquela noite, ao chegar ao pequeno apartamento que habitava e cumprimentar o gato Barnes, foi direto folhear o álbum de fotografias. Não o abria havia dois anos, mas agora ansiava por ver de novo o homem alto e bonito de seu passado. Amara Marc Brannon mais do que a própria vida. Tinham sido tão íntimos quanto duas pessoas podiam ser sem chegar às vias de fato, mas então ele descobrira um segredo dela que o despedaçara. Rejeitando-a bruscamente, ele a xingara e abandonara. E não voltara mais.   Dias depois, ela foi a uma festa com um conhecido chamado Dale Jennings de um ricaço de San Antonio que morreu assassinado durante o evento. Ela acusou do crime o melhor amigo de Marc, candidato a vice-governador nas eleições e único herdeiro do morto. Brannon citou o passado dela no tribunal para livrar o amigo. Nunca mais se falaram. Fora uma fatalidade. Não podia de fato repreender Brannon por defender o melhor amigo. Por outro lado, se a amasse de verdade, ele não teria se afastado tão facilmente. Nem a teria tratado feito lixo. A maioria dos que conheciam Brannon achava que ele não reconheceria o amor nem que este o cutucasse no olho. E devia ser verdade. Era solitário por natureza. Ele e a irmã Gretchen tinham tido uma infância muito pobre. A mãe morrera de câncer havia dois anos, pouco depois que Marc e Josette desmancharam o namoro. Gretchen fora cortejada por um oportunista que a desprezara vilmente ao descobrir que ela só herdara dívidas. Assim como Josette, os irmãos Brannon sabiam o que era ser traído. Barnes ronronou e se esfregou em seu braço, distraindo-a dos pensamentos tristes. Afagou-o e o apertou com força. O miado vibrou contra sua pele, confortandoa, bem como o peso do corpinho peludo. Recolhera-o em um beco, faminto e necessitado de banho. Ela precisava de alguém para quem voltar após cada dia de trabalho exaustivo. Jamais pudera ignorar qualquer criatura ferida ou abandonada, e se apaixonara por Barnes à primeira vista. Após consulta com o veterinário para check-up geral e vacinas, levara-o para casa. Agora, não podia imaginar a vida sem ele. Barnes preenchia espaços vazios em seu íntimo. ― Está com fome? ― indagou, e ele se esfregou mais. ― Vamos lá então. ― Com um suspiro, Josette levantou-se e espreguiçou, retorcendo o corpo esguio. Seus cabelos se derramaram sobre os ombros, cascata dourada que lhe alcançava os quadris. Brannon adorava tocar em seus cabelos soltos... Fez careta. Tinha de sufocar as lembranças!    ― Vamos dividir um hambúrguer, Barnes ― decidiu. ― Depois, tenho de analisar umas mil pastas e baixar umas dez páginas de Internet no notebook para Simon. Depois, tenho que escrever um resumo e entregar a Simon para ele dar a opinião. Aí, poderei passar o fax para o promotor...― Olhou para o gato e meneou a cabeça. ― Que vida de cão!   


Pdf  - Diana Palmer - A Última Chance